Ana levou um susto. De repente, o marido aparece em sua frente, pálido, sem cor, sem vida, com semblante apavorado.
- O que houve, Fernando?
- Você viu aonde ELE se enfiou?
- ELE... ELE quem, Fernando?
- ELE, ora! – respondeu o marido não entendendo por que a esposa fazia aquela cara de incompreensão.
- Vá, me diga Ana, cadê ELE? Onde ELE se escondeu? Você ajudou-O a se esconder?
- Mas ELE quem, Fernando?
- Não se faça de desentendida? Você sabe muito bem de quem eu estou falando? Pelo jeito você aproveitou que eu cochilei e levantou-se da cama, calmamente, sem fazer barulho, a fim de escondê-LO de mim! Mas não adiantou, pois eu acordei! – bufou o marido.
A esposa olha para o marido, perplexa. O que estaria acontecendo? Ele nunca havia reagido daquele jeito por causa DELE!
- Me diga de uma vez, será melhor para você! Não me esconda nada! Aonde você O escondeu? Pare de acobertá-LO!
- Mas eu não estou acobertando!
- Ah! Viu só, você já admite que ELE esteja por aqui! Cadê ELE, Ana?
Fernando olhou para a esposa. Quando ela começou a mudar o seu comportamento? Andava tão atucanado com o trabalho que nem percebera a mudança. Ana olhou para o esposo e se perguntou: “Qual foi o momento queELE tinha se tornado imprescindÃvel em sua vida?”
- Eu... – começaram os dois a falar.
- Fale você primeiro. – pediu o marido (ainda restava-lhe um quê de cavalheirismo).
- Não, pode começar. – falou ela. Afinal, ela nem sabia como dizer aquilo. Como falar DELE assim tão abertamente? Embora os dois soubessem DELE, que não era segredo para o casal, era difÃcil começar um diálogo discutindo: ELE.
Nesse instante, o marido, que caminhava ofegante e enlouquecido para cima da esposa, caiu sentado na cadeira da cozinha. Ela descobrira tudo. Chegara a hora de revelar o seu segredo, as suas vontades, as necessidades, as urgências orgânicas que o seu corpo clamava. Com os olhos baixos, ombros caÃdos, como se tivesse levado um soco no estômago, o marido rendeu-se à verdade e à sua necessidade fÃsica:
- Eu confesso, preciso, necessito, não consigo mais viver sem O... Morfeu.